A criação deste blog foi tomada inicialmente objetivando a viabilização, compreensão e conscientização das pesquisas desenvolvidas por mim, parceiros acadêmicos, professores, pesquisadores e especialistas tendo como diretrizes à Arqueologia e História. Também sob pretensão de divulgação de entrevistas com os expoentes das áreas já elencadas, aproximando mais ainda o leigo aficionado ou o acadêmico em prática das diversas variáveis existentes nessas duas ciências.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Estação Ferroviária de Laranjeiras e o Desenvolvimento Férreo em Sergipe


 
                            

(Por Jaciara Andrade)


O início da arquitetura de ferro no Brasil está ligado à ampliação das relações comerciais com a Europa no início do século XIX, visto que, a pouca existência de siderurgia no país, impulsionada pela abertura de portos e do decreto que impedia instalação de manufaturas nacionais, levava à importação do produto. Em 1854 foi construído o primeiro trecho percorrido por estrada de ferro em território brasileiro, por iniciativa do Barão de Mauá, que ligava o porto de Mauá a Fragoso, no Rio de Janeiro. Em Sergipe, as construções são iniciadas na primeira década do século XX, tendo percorrido todo o estado até 1954.
A linha férrea sergipana foi construída com a finalidade de estabelecer uma ligação entre as duas maiores cidades do Nordeste, Recife e Salvador. A linha vinha do território pernambucano passando pelo estado de Alagoas no ramal de Palmeira dos Índios, mas só cumpriu seu objetivo de ligar o norte ao sul do Brasil quando, em 1972, a ponte sobre o rio São Francisco (Sergipe/Alagoas) foi finalmente concluída, conectando-se com a linha vinda do ramal de Timbó, na Bahia que passava pelo território sergipano. As estradas de ferro no estado, assim como em todo o Brasil, foram intensamente utilizadas como meio de transporte de pessoas e mercadorias. A trajetória da via férrea sergipana reflete a importância econômica de algumas regiões durante o século XX, além de marcar sua própria decadência em função da construção das rotas rodoviárias.
A estrutura da estação ferroviária de Laranjeiras, atualmente em ruínas, aparentemente, obedece a um estilo arquitetônico simples, não muito comum para a época, onde era adotado o neocolonial que consistia no resgate de motivos decorativos típicos do período colonial americano de origem ibérica, empregado na arquitetura contemporânea. Este estilo é adotado no Brasil, de forma própria, marcando a arquitetura em diversas cidades, inclusive em Laranjeiras, que possui algumas construções deste período completamente em desacordo com o estilo adotado na estação. Essa divergência pode ser explicada devido à função do prédio, o que pode ser constatado a partir da análise de outras construções de mesmo porte e período que apresentam características arquitetônicas semelhantes, como é o caso das estações de Rita Cacete e Colônia, localizadas no município de São Cristóvão.
A estação foi edificada sob domínio da Cia. Chemins de Fer Federaux du L'Est Brésilien, de capital francês, entretanto, no período de 1935 a 1975 passa a ser controlada pela V. F. F. L (Viação Férrea Federal do Leste Brasileiro), então criada pelo Governo para assumir o acervo deixado pelos franceses. No ano de 1975 foi incorporada pela Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), de economia mista, integrante da Administração Indireta do Governo Federal, vinculada funcionalmente ao Ministério dos Transportes, onde permanece até 1996 quando é feita a transferência para o setor privado dos serviços de transporte ferroviário de carga.
Atualmente a linha férrea da cidade de Laranjeiras é utilizada como passagem do trem cargueiro da FCA vindo do sul, que segue até a estação de Riachuelo onde carrega produtos químicos das fábricas do pólo petroquímico. Contudo, a estação ferroviária, de propriedade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) encontra-se em completo abandono. O prédio apresenta apenas suas paredes em ruínas e em seu interior podem ser observados vestígios da cobertura que desabou. Os reais motivos do esquecimento do patrimônio ainda serão estudados, contudo, sabe-se que o tempo está destruindo não apenas um prédio quase centenário, mas, todo o valor histórico que o desenvolvimento férreo proporcionou àquela cidade.

Este artigo está disponível no formato PDF e os interessados podem solicita-lo através do e-mail: viagemarqueohistorica@hotmail.com

(Jaciara Andrade é graduanda do 8º período do curso de bacharelado em arqueologia pela Universidade Federal de Sergipe)