A criação deste blog foi tomada inicialmente objetivando a viabilização, compreensão e conscientização das pesquisas desenvolvidas por mim, parceiros acadêmicos, professores, pesquisadores e especialistas tendo como diretrizes à Arqueologia e História. Também sob pretensão de divulgação de entrevistas com os expoentes das áreas já elencadas, aproximando mais ainda o leigo aficionado ou o acadêmico em prática das diversas variáveis existentes nessas duas ciências.

domingo, 15 de abril de 2012

Rei Arthur: Verdade ou Mito?






Vinícius Solera

O lendário Rei Arthur, um líder heróico meio romano meio bretão, seu nascimento profetizado pelo mago Merlin. Uther Pendragon, rei da Bretanha, cobiça a bela Igrayne, mas ela é casada com Gorlois, o duque da Cornualha. Então, Uther vai ate Merlin e pede uma solução. O mago o transforma em Gorlois. Naquela mesma noite Igrayne espera seu marido em seu quarto, mas não é ele quem entra em seu quarto e sim Uther na forma de Gorlois e Arthur é concebido naquela noite. No dia do nascimento da criança, Arthur é levado por Merlin para ser preparado para ser o novo rei da Bretanha, ele o leva para uma vila de camponeses onde Merlin visitava com freqüência. Quando Arthur completa 16 anos, Merlin o leva até um rochedo onde havia uma espada encravada na pedra e lá Merlin revela sua verdadeira paternidade e conta que aquela espada na pedra era Excalibur. Uma espada mágica e que só seria retirada por aquele nascido verdadeiramente rei. Merlin pede a Arthur para que ele tente retirá-la. Arthur a retira e ele se torna rei e passa a ter vários cavaleiros conhecidos como os Cavaleiros da Távola Redonda e Merlin como seu principal conselheiro.
Esta é a lenda, mas pesquisadores atuais concordam que ela esta fundamentada em fatos reais escritos medievais que falam de um Arthur que lutou contra os saxões para defender a Bretanha os vencendo e unificando os bretões. No século IX, um monge chamado Nennius conta em seu livro A História dos Bretões que Roma havia dominado a Bretanha por cinco séculos, mas com a queda do império e a invasão Bárbara na capital Roma e começou a retirar as suas legiões da Bretanha e as poucas que sobraram sentiram dificuldade em defendê-la contra escotos e pictos do norte e para ajudá-los a combatê-los os romanos chamaram os saxões, porém os saxões os subjugaram e resolveram conquistar a Bretanha e é aí que Nennius conta que Arthur travou doze batalhas contra os saxões culminado na batalha de Monte Badon onde ele venceu os saxões e unificou os bretões.



No século 12, Arthur foi promovido de um líder guerreiro a rei. A transformação ocorreu no relato do clérigo Geoffrey Monmouth na“Historia dos Reis da Bretanha”. O relato tinha como fonte as tradições  orais bretãs e gaulesas. Monmouth acrescenta a história outros personagens como o mago Merlin, os cavaleiros de Arthur, a rainha Gueneviere e a fonte do poder de Arthur, a espada Excalibur, que na versão de Monmouth se chamava Calibum.
Na França as Histórias sobre o rei Arthur tomariam novo impulso. Chretien de Troves escreveu cinco livros sobre Arthur transformando todos em cristãos porque a França era um dos maiores países dentro da cristandade na época, acrescentou uma busca fervorosa pelo Santo Graal (o Cálice de Cristo) e a traição de Guineviere com Lancelot. Em 1470 foi publicado o livro que daria a história seu acabamento final, o livro “A Morte de Arthur” do monge Thomas Malory que reúne os livros anteriores.
Mas quem foi o verdadeiro rei Arthur? Esqueçam os livros franceses e o de Malory, provavelmente o Arthur histórico está nos primeiros relatos, os de Nennius e Monmouth. No final do século V e começo do século VI o império romano está em declínio e para proteger a capital o imperador manda retirar as legiões da Bretanha  onde só ficaram umas poucas, perto da muralha de Adriano, esses poucos romanos se tornaram nobres do local e provavelmente um desses romanos que permaneceu foi Uther, o pai de Arthur. A três personagens citados como Arthur por historiadores modernos, um deles era Ambrosios Aureliano, um general romano que serviu na Bretanha e outro foi Artorios Castos, outro general romano que lutou na Bretanha. Os dois possuíam características do Arthur histórico, ambos lutaram na Bretanha e foram grandes líderes de batalhas, mas eles não poderiam ser o nosso Arthur, pois eles eram romanos puros e não meio romano e meio bretão e Ambrosios não era da época da invasão dos saxões e sim da conquista da Bretanha por Roma e Artorios Castos viveu quinhentos anos depois, mas escavações em Tintagel da Cornualha (local de nascimento de Arthur ) trouxeram uma pequena luz sobre sua verdadeira identidade. Foi encontrada uma pedra com um nome escrito “Artrus”. Acredita-se que o jovem Arthur tenha registrado seu nome nesta pedra.
Em 1930 o arqueólogo Raleigh Radford em missão oficial patrocinada pelo ministério britânico, escavou o castelo de Tintagel na Cornualha. Acreditava-se que ali seria o local onde Arthur nascera. As pesquisas comprovaram que o local foi uma fortificação entre o século V e VI e foram encontradas cerâmicas finamente trabalhadas e chamadas de cerâmica vermelha do norte da África, mostrando que o local foi um rico entreposto comercial e que alguém muito poderoso estava importando essas cerâmicas para Tintagel. Em 1965 foi constituída a comissão de investigação Camelot e após cinco anos de investigação em Somerset, os arqueólogos identificaram as ruínas do castelo de Cadbury  como sendo Camelot. O lugar no topo de uma colina, fortificado no período pré-romanico fora escolhido por causa da sua posição que permitia dominar toda a planície que se estendia ate o canal de Bristol. Os arqueólogos também encontraram a fina cerâmica vermelha africana no castelo de Cadbury provando que Tintagel e Cadbury estavam ligados.






Enquanto aos outros personagens da lenda, Merlin por exemplo, pelas descrições que temos dele como os cabelos e a barba longa e de cor branca, identificamos ele como um personagem real, os druidas celtas,os sacerdotes dessas tribos, que eram os verdadeiros feiticeiros que faziam o utensílio da magia.



Outro personagem é a rainha Guineviere, que provavelmente não é exatamente como Malory a descreve, uma rainha cristã e pura, provavelmente Guineviere pertencia as tribos celtas que lutaram junto a Arthur para defender a Bretanha e que se conheceram durante uma campanha de Arthur. Lancelot e os outros cavaleiros eram provavelmente meninos que cresceram juntos a Artur ou com Lancelot, ou então que se juntaram ao exército durante as campanhas de Arthur vindo de várias partes da Bretanha.



Qual seria a explicação para a Excalibur?  A fonte do poder de Arthur, provavelmente a Excalibur veio de uma antiga tradição celta que consistia em cravar uma espada em uma pilha de rochas para venerar o deus da guerra, e alguns relatos trazem a excalibur como a espada do própio deus da guerra (Marte para os romanos ou Ares para os gregos). Provavelmente o que aconteceu é que uma espada sagrada dita como a espada do deus da guerra foi fincada em uma pilha de pedras para venerá-lo e a lenda de Excalibur cresceu em cima disso, e só aquele nascido verdadeiramente rei, poderia retirá-la pois, só aquele nascido verdadeiramente rei seria digno o suficiente para possuir a espada do deus da guerra.