A criação deste blog foi tomada inicialmente objetivando a viabilização, compreensão e conscientização das pesquisas desenvolvidas por mim, parceiros acadêmicos, professores, pesquisadores e especialistas tendo como diretrizes à Arqueologia e História. Também sob pretensão de divulgação de entrevistas com os expoentes das áreas já elencadas, aproximando mais ainda o leigo aficionado ou o acadêmico em prática das diversas variáveis existentes nessas duas ciências.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Arqueologia da Paisagem Na Bacia do Rio Japaratuba, Sergipe.

 
 
 
 
 
 
Diego Bragança
Márcia Barbosa Guimarães

 
O presente trabalho trata da etapa indireta da pesquisa arqueológica que vem sendo desenvolvida na zona costeira da bacia do rio Japaratuba. O levantamento das fontes escritas secundárias e das fontes primárias representadas por relatórios e projetos existentes nos arquivos do IPHAN-SE, além do CNSA do IPHAN, demonstrou a existência de 04 sítios arqueológicos.
 
O estudo visa compreender a ocupação de grupos pré-coloniais na bacia do Rio Japaratuba, focando nos assentamentos implantados na zona costeira. Para tanto será utilizada a abordagem da arqueologia da paisagem entendida como paisagem construída e/ou modificada pelas sociedades que dela se apropriou, considerando que o seu resultado é a soma da atuação de processos naturais e/ou antropogênicos. Assim a teoria interpretativa do pós-processualismo será o suporte teórico-metodológico utilizado.
 
 
 
Tem por objetivo compreender a construção da paisagem arqueológica pelos grupos pré-coloniais que ocuparam a porção do litoral da bacia do rio Japaratuba. Para tanto, busca mais detalhadamente: elaborar o mapa da paisagem arqueológica, realizar a prospecção arqueológica sistemática da bacia do rio Japaratuba, analisar a cultura material recuperada durante à prospecção arqueológica e alimentar o banco de dados do SIG Arqueologia do Litoral de Sergipe.
O foco recairá sobre as atividades de registro, mapeamento e caracterização sociocultural dos assentamentos pré-coloniais identificados na bacia do rio Japaratuba, utilizando-se, para tanto, de geotecnologias como o GPS (global positioning system) e SIG (sistema de informações geográficas) (MORAIS,1999:12), bem com da amostragem probabilística para a prospecção arqueológica.



 
 

A primeira etapa, a qual este estudo se refere, se caracteriza pela execução do levantamento bibliográfico, documental e cartográfico junto às fontes primárias (relatórios e projetos), que se encontram sob a guarda do IPHAN, e do Departamento de Ciências Sociais e do Museu Arqueológico de Xingó, ambos pertencentes à UFS, bem como junto às fontes secundárias (bibliografia), objetivando a coleta de dados sobre o patrimônio material (arqueológico) da bacia do Rio Japaratuba.
A segunda etapa, a ser executada, recairá sobre a análise paisagística e a prospecção arqueológica da bacia do rio Japaratuba. Para tanto serão considerando a metodologia de amostragem a ser utilizada na prospecção em superfície e no subsolo. Esta metodologia será composta por diferentes técnicas amostrais que envolvem o uso da amostragem probabilística sistemática, a partir da aplicação de transects lineares paralelos (SCHIFFER ET AL, 1978; WHITE e KING, 2007) e transects radiais, tendo por ponto central sítios já identificados durante as etapas/atividades anteriores. Outra técnica que será utilizada é o zoneamento ambiental proposto por Rodet et al (2002), considerando, no caso específico da área de estudo, três domínios ambientais – terraços marinhos, dunas costeiras e estuários.
 
 
 
 
 
Compondo o quadro da hidrografia do Estado de Sergipe, a bacia do rio Japaratuba ocupa área de 1.695,7 km2, com posição geográfica na periferia oriental atlântica, no agreste e no hinterland, de clima semi-árido.

O segmento litorâneo compreende três setores – interface continental, planície costeira e interface marinha – que correspondem a divisões transversais à linha de costa. Desenvolvendo-se a leste dos tabuleiros costeiros esculpidos no grupo Barreiras, a planície costeira que integra a zona costeira do estado de Sergipe segue o modelo clássico das costas que avançam em direção ao oceano, em decorrência do acréscimo de sedimentos mais novos, em que cada crista de praia representa depósito individualizado associado a uma antiga linha de praia (DOMINGUEZ, et.al, 1992).

Os domínios ambientais – terraços marinhos, dunas costeiras e estuários – refletem as influências dos processos de origem marinha, eólica e fluviomarinha em decorrência das condições ambientais variáveis durante o Quaternário (CARVALHO E FONTES, 2006).
 
 
 
 
 
Ocupando a parte mais interna da planície costeira são encontrados os terraços marinhos pleistocênicos, associados a um importante episódio transregressivo do mar, denominado por Martin et al (1980) de Penúltima Transgressão. Esses terraços apresentam, na superfície, vestígios de cordões litorâneos, remanescentes de antigas cristas de praia, parcialmente retrabalhados pela ação eólica ou semifixados pela vegetação herbáceo-arbustiva de restinga. Seccionando esses terraços mais antigos são encontrados ainda paleocanais de maré parcialmente colmatados, onde atualmente predomina a vegetação de pântano. Os terraços holocênicos, com altitudes variando de alguns centímetros até cerca de 4 metros acima do nível médio atual do mar, formam uma faixa praticamente contínua na margem oceânica, interrompendo-se apenas nas desembocaduras dos rios e riachos que drenam a planície costeira. Muito embora os cordões litorâneos ocorram nesta formação holocênica, sua continuidade é interrompida pela mobilidade das dunas litorâneas ativas que avançam para o interior em faixas de largura variável e pela ação antrópica. Apoiados na plataforma continental, os cordões litorâneos mostram progressivo desenvolvimento que conduz ao alargamento dos perfis longitudinais dos rios, criando problemas para a drenagem da planície costeira (Carvalho e Fontes, 2006).
 
 
 
 
 
Nesta paisagem geomorfológica, o levantamento das fontes escritas primárias (AMANCIO-MARTINELLI E BATISTA, 2009; FERREIRA, 2012; CNSA/IPHAN) permitiram identificar a presença de 04 sítios arqueológicos distribuídos nos municípios de Barra dos Coqueiros (2) e Pirambu (2).

A continuidade do projeto permitirá visitar os sítios identificados na etapa indireta, bem como aplicar a metodologia de amostragem visando identificar novos sítios arqueológicos na planície costeira da bacia do rio Japaratuba, contribuindo para a construção do quadro arqueológico do estado de Sergipe, bem como para o entendimento das paisagens arqueológicas construídas pelas populações pré-coloniais.