A criação deste blog foi tomada inicialmente objetivando a viabilização, compreensão e conscientização das pesquisas desenvolvidas por mim, parceiros acadêmicos, professores, pesquisadores e especialistas tendo como diretrizes à Arqueologia e História. Também sob pretensão de divulgação de entrevistas com os expoentes das áreas já elencadas, aproximando mais ainda o leigo aficionado ou o acadêmico em prática das diversas variáveis existentes nessas duas ciências.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Legionário Romano

     (Por Diego Bragança)


Pois bem, quem nunca ouviu falar na famosa “falange grega” com os seus milhares de hoplitas armados com lanças de 2,5 metros de comprimento?



     Formações quase que instransponíveis dentro de uma batalha, criação originalmente grega, mas herdada pelos romanos que as transformaram numa tática chamada “formação tartaruga”. Esta que por sua vez fora usada pelos Legionários Romanos em suas batalhas, como uma manobra fácil de ser aplicada, levando-se em conta que os Legionários se deslocavam de um ponto ao outro em formações retangulares com fileiras de 8 a 10 homens cada uma, e a única preocupação neste caso seria posicionar o escudo de forma que fosse repelido o ataque por flechas, lanças ou fundas.



Formação Tartaruga



     A Legião Romana revolucionou na criação de táticas de guerra que até hoje influenciam exércitos de nações ocidentais, ganhando a designação de primeiro exército profissional, aplicavam na prática manobras complexas em combinações de infantaria, cavalaria e artilharia fazendo uso, por exemplo, de catapultas no campo de batalha. Por isso tem em sua maior característica a disciplina e estratégia. Todos os seus membros têm o mesmo tipo de formação e da mesma forma compartilham dos mesmos princípios, a partir das suas respectivas efetuações nos exércitos passavam 25 anos em luta, sendo que os 5 últimos anos de combate se tornavam mais leves com atividades menos desgastantes dentro das legiões. A Águia Real era o símbolo de sua inteligência, levando-a a campo em uma arte feita de prata e posteriormente em ouro, tendo o seu guardião para resguardá-la em batalha mesmo que custe a sua própria vida. Eram em sua composição e hierarquia:

• 1 general comandava 10 centuriões formando uma legião (800 a 1.000 homens).


• 1 centurião controlava 10 decuriões formando uma centúria (80 a 100 homens).


• 1 decurião controlava de 8 a 10 soldados rasos, formando uma decúria.



     Magister militum (General)
      Possuíam vários tipos de armas de ataque e de defesa, faziam uso da Lorica que poderia ser de seis tipos diferentes e servia como armadura evoluindo com o passar do tempo se tornando mais espessa colocando a espada em desuso já que era quase impossível perfurar uma armadura com tamanha espessura, forçando o inimigo a usar armas perfurantes como as lanças e não mais cortantes, como era um material muito bem elaborado feito em ferro e forrado a couro por dentro tornava-se caro a sua produção e uso, com uma das crises que o Império Romano passou a produção desse tipo de armadura teve que ser obrigada a parar deixando os Legionários Romanos desprotegidos. Ainda dentro do quadro de armas de defesa, usavam um escudo retangular que serviam também para golpear o inimigo, um elmo que protegia os pescoço e as orelhas, diferentes do elmo viking, por exemplo, que em sua grande maioria só protegiam a parte superior da cabeça e da face, tendo como adornagem uma crista que só era usada nos elmos dos suboficiais e oficiais. Havia também o “Caligae” ou sandália de marcha e uma túnica de cor vermelha.


Centurião


     Dentro do quadro de armas de ataque se enquadra o Gládio, espada considerada curta em média com 60 cm de comprimento e com dois gumes sendo a única espada que se tem conhecimento que possa ser arremessada por conta da peça esférica que se encontra no cabo, o que provoca um equilíbrio no arremesso. Ainda havia o Pilo, uma lança feita de madeira com ponta de ferro, quando arremessada no escudo no adversário, esta perfurava e se fixava de forma que o inimigo tinha que abandonar o escudo se tornando vulnerável no campo de batalha. Os Legionários Romanos ainda tinham posse de um punhal (Pugio) que era transportado na cintura.



Legionários




Lorica Segmentada




Gládio





Caligae



Pilum (pilo)



Centúria em formação

     O Legionário Romano era bem treinado e induzido a organização, obrigatoriamente tinha menos de 27 anos de idade, passavam por treinamento duro e pesado que em sua grande maioria não se separavam das suas armas mesmo que em marcha, forçavam-no a longas marchas com o máximo de carga que pudesse carregar caso contrário, era castigado pelos centuriões que puniam severamente o soldado.

     Depois de 25 anos prestados na legião, o veterano de batalha era aposentado recebendo uma boa quantia (soldo) possibilitando a compra de terras em específico na região onde travou sua última campanha de guerra, por conseguinte se tornavam comerciantes, artesão entre outros e costumavam casar-se com mulheres filhas daquela terra que por sua vez tinham seus filhos e estes se tornaram muito provavelmente soldados da Legião Romana. Se analisarmos bem era apenas mais uma forma estratégica de fazer com quê a cultura militar romana se mantivesse firme e perpetuasse por muitos e muitos séculos.






sábado, 13 de março de 2010

Pedro Paulo Funari em Sergipe




(Por Diego Bragança)

 
      Aproveitamos a passagem do Professor Dr. Pedro Paulo Funari, que esteve pela primeira vez em terras sergipanas nos dias 10, 11 e 12 de março ministrando palestras no auditório do Campus UFS Laranjeiras para os acadêmicos e todo o corpo docente do curso de bacharelado em Arqueologia nos cedendo gentilmente uma entrevista falando sobre Arqueologia e Histórica.

     Tendo abordado temas como Introdução a Arqueologia, Arqueologia Clássica, Perspectivas da Arqueologia Histórica e Arqueologia Pública, os alunos do curso tiveram a oportunidade de interagir com Funari, este que explanou de forma muito clara sobre todos os temas e dando abertura aos alunos e professores para tirarem dúvidas e participarem juntamente nas palestras.

     Pode-se dizer que tenha sido momento único e histórico em Sergipe com esta presença cativante do Funari, impulsionando e estimulando ainda mais os graduandos do curso de bacharelado em Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe.
     
     Pedro Paulo Abreu Funari é um arqueólogo brasileiro, professor da Universidade Estadual de Campinas e líder de grupo de pesquisa do CNPq. Atualmente participa do conselho editorial de trinta revistas científicas brasileiras e quatorze estrangeiras entre elas o Public Archaeology, o Journal of Social Archaeology e o International Journal of Historical Archaeology. Sua contribuição ao meio científico atual é mais de 330 artigos publicados em revistas de todo o mundo. É autor e co-autor de mais de 80 livros na área de história e arqueologia. Organizou mais 19 reuniões científicas.
     É graduado em História pela Universidade de São Paulo em 1981, mestre em Antropologia Social pela USP em 1986, doutor em Arqueologia (1990) e pós-doutor pela Illinois State University em 1992, entre outros títulos acadêmicos. É livre-docente da Unicamp desde 1996.

[Entrevista]


VA: Qual foi o lugar ou objeto de estudo relacionado à Arqueologia que te deixou mais fascinado? E com relação à História?


Funari: Diversos temas me fascinaram, no decorrer da carreira e dos estudos. Dentre eles, na Arqueologia, mencionaria as ânforas e os grafites e, na História, a historiografia antiga e moderna.



VA: Sabe-se que você tem como graduação a área de História, já passou alguma vez por sua cabeça em lecionar? Isso foi colocado em prática?



Funari: Não cheguei a licenciar-me, conclui o bacharelado e fui para a pesquisa, tendo iniciado a docência no ensino superior. No entanto, escrevi livros e ministrei palestras para crianças desde cedo.

VA: Você prefere lecionar ou pesquisar? Aproveitando a deixa, gostaríamos que você desse o seu ponto de vista no que diz respeito à educação no Brasil, tendo como foco a área de História e Arqueologia.



Funari: Ambas as atividades são complementares e muito em encantam. A sala de aula permite o contato com a alteridade, de maneira muito direta. Aprende-se muito. O ensino de História no Brasil é muito desenvolvida e muitas vocações surgem nos bancos escolares, graças aos livros e aulas de História no ensino fundamental e médio. A Arqueologia não tem, ainda, essa posição, mas o Brasil teria muito a ganhar com a introdução da Arqueologia no currículo.



VA: Você já desenvolveu ou apóia algum projeto que tem como objetivo a implantação da Arqueologia nos livros didáticos do ensino fundamental e ensino médio?



Funari: Escrevi livros para crianças, de apoio didático, diversos deles com boa difusão. Os arqueólogos podem contribuir para o mesmo objetivo, de modo a que tenhamos sempre mais meios de informação e formação arqueológica para os jovens estudantes.


VA: Em seu livro “Arqueologia” você acaba parafraseando algo do arqueólogo Paulo Zanettini: “Idiana Jones tem que morrer!”. Como você encara o fato das pessoas terem essa visão deturpada e estereotipada da Arqueologia?



Funari: Isso se deve à trajetória da disciplina, surgida como parte da ação imperialista e militar das grandes potências.

VA: Para os estudantes de Arqueologia, em sua grande maioria há uma confusão nos que diz respeito às principais escolas da Arqueologia, tendo como exemplo, a escola americana e a francesa, você teria como definir esses dois seguimentos em suas características?

Funari: Ambas são muito variadas. De todo modo, na França, desenvolveu-se uma Arqueologia pré-histórica de caráter antropológico e humanista e uma Arqueologia das sociedades com escrita mais centrada na História. Nos Estados Unidos, há uma diversidade de escolas, mas as abordagens deterministas ecológicas e econômicas foram particularmente difundidas no Brasil, em detrimentos àquelas abordagens arqueológicas mais culturalistas.

VA: Qual a sua visão sobre a Arqueologia de Contrato? Você faz uso desta vertente?

Funari: A democratização do país levou à proteção do patrimônio ambiental e cultural. A legislação federal, estadual e municipal implementou normas que permitiram o florescimento de pesquisas financiadas pelas empresas públicas e privadas empreendedoras. A Arqueologia de Contrato, nestas circunstâncias, contribuiu para que se multiplicassem as pesquisas, de forma exponencial.


VA: Esta é a sua primeira vez aqui em Sergipe certo? Há algo relacionado à Arqueologia ou História aqui no estado que você já tenha estudado, como por exemplo, o projeto de salvamento arqueológico em Xingó?

Funari: Não trabalhei com temas sergipanos, embora conheça a literatura sobre Xingó, dentre outras pesquisas. O potencial arqueológico do Estado é muito grande, tanto na pesquisa pré-histórica, histórica e subaquática, para citar as que conheço melhor.


VA: Há uma questão bastante polêmica que é a não regulamentação da Arqueologia como profissão, ou até mesmo o fato da atividade de historiador não ser reconhecida como profissão. Dentro desta problemática, quais são as suas perspectivas?

Funari: Há movimentos em prol da regulamentação de ambas as profissões, que me parece relevantes. De toda forma, ambas prosperaram muito sem essa caracterização administrativa e burocrática, o que mostra seu dinamismo.


VA: Qual a visão que os estrangeiros têm com relação à Arqueologia brasileira?

Funari: Hoje, a Arqueologia brasileira é mais conhecida do que no passado e isto por diversos motivos. Os livros e artigos de brasileiros, publicados no estrangeiro, multiplicaram-se, assim como sua participação em congressos e seminários. Para que isto se torne ainda mais efetivo, é essencial que os arqueólogos se empenhem em dialogar com os colegas de outros países, algo que cresce a cada ano.


VA: Agora uma pergunta para descontrair. Se você não tivesse seguido este caminho da ciência haveria outra área de interesse pessoal, ou outra atividade que as pessoas hoje denominam como hobby? Já imaginou o Pedro Paulo Funari Jogador de Futebol ou Músico?


Funari: Como jogador, minha carreira encerrou-se aos 10 anos de idade, quando fiquei míope! A natação foi sempre mais um hobby. A música erudita uma grande paixão, a qual, contudo, nunca estudei, embora seja uma excepcional parte do meu lazer. Talvez, fora da ciência, a advocacia fosse um campo de atuação, mas a ciência e a docência foram uma escolha que me trouxe muita satisfação.