Diego
Bragança
Márcia
Barbosa Guimarães
O presente trabalho trata da
etapa indireta da pesquisa arqueológica que vem sendo desenvolvida na zona
costeira da bacia do rio Japaratuba. O levantamento das fontes escritas
secundárias e das fontes primárias representadas por relatórios e projetos
existentes nos arquivos do IPHAN-SE, além do CNSA do IPHAN, demonstrou a
existência de 04 sítios arqueológicos.
O
estudo visa compreender a ocupação de grupos pré-coloniais na bacia do Rio
Japaratuba, focando nos assentamentos implantados na zona costeira. Para tanto
será utilizada a abordagem da arqueologia da paisagem entendida como paisagem
construída e/ou modificada pelas sociedades que dela se apropriou, considerando
que o seu resultado é a soma da atuação de processos naturais e/ou
antropogênicos. Assim a teoria interpretativa do pós-processualismo será o suporte
teórico-metodológico utilizado.
Tem por objetivo compreender a construção da paisagem
arqueológica pelos grupos pré-coloniais que ocuparam a porção do litoral da
bacia do rio Japaratuba. Para tanto, busca mais detalhadamente: elaborar o mapa
da paisagem arqueológica, realizar a prospecção arqueológica sistemática da
bacia do rio Japaratuba, analisar a cultura material recuperada durante à
prospecção arqueológica e alimentar o banco de dados do SIG Arqueologia do
Litoral de Sergipe.
O foco recairá sobre as atividades de registro, mapeamento e
caracterização sociocultural dos assentamentos pré-coloniais identificados na
bacia do rio Japaratuba, utilizando-se, para tanto, de geotecnologias como o
GPS (global positioning system) e SIG (sistema de informações geográficas)
(MORAIS,1999:12), bem com da amostragem probabilística para a prospecção
arqueológica.
A primeira etapa, a qual este estudo se refere, se caracteriza pela execução do
levantamento bibliográfico, documental e cartográfico junto às fontes primárias
(relatórios e projetos), que se encontram sob a guarda do IPHAN, e do
Departamento de Ciências Sociais e do Museu Arqueológico de Xingó, ambos
pertencentes à UFS, bem como junto às fontes secundárias (bibliografia),
objetivando a coleta de dados sobre o patrimônio material (arqueológico) da
bacia do Rio Japaratuba.
A segunda etapa, a ser executada,
recairá sobre a análise paisagística e a prospecção arqueológica da bacia do
rio Japaratuba. Para tanto serão considerando a metodologia de amostragem a ser
utilizada na prospecção em superfície e no subsolo. Esta metodologia será
composta por diferentes técnicas amostrais que envolvem o uso da amostragem
probabilística sistemática, a partir da aplicação de transects lineares
paralelos (SCHIFFER ET AL, 1978; WHITE e KING, 2007) e transects radiais, tendo
por ponto central sítios já identificados durante as etapas/atividades
anteriores. Outra técnica que será utilizada é o zoneamento ambiental proposto
por Rodet et al (2002), considerando, no caso específico da área de estudo, três
domínios ambientais – terraços marinhos, dunas costeiras e estuários.
Compondo o quadro da hidrografia
do Estado de Sergipe, a bacia do rio Japaratuba ocupa área de 1.695,7 km2,
com posição geográfica na periferia oriental atlântica, no agreste e no hinterland,
de clima semi-árido.
O segmento litorâneo compreende
três setores – interface continental, planície costeira e interface marinha –
que correspondem a divisões transversais à linha de costa. Desenvolvendo-se a
leste dos tabuleiros costeiros esculpidos no grupo Barreiras, a planície
costeira que integra a zona costeira do estado de Sergipe segue o modelo
clássico das costas que avançam em direção ao oceano, em decorrência do acréscimo
de sedimentos mais novos, em que cada crista de praia representa depósito individualizado
associado a uma antiga linha de praia (DOMINGUEZ, et.al, 1992).
Os domínios ambientais – terraços
marinhos, dunas costeiras e estuários – refletem as influências dos processos
de origem marinha, eólica e fluviomarinha em decorrência das condições
ambientais variáveis durante o Quaternário (CARVALHO E FONTES, 2006).
Ocupando a parte mais interna da
planície costeira são encontrados os terraços marinhos pleistocênicos,
associados a um importante episódio transregressivo do mar, denominado por
Martin et al (1980) de Penúltima Transgressão. Esses terraços apresentam,
na superfície, vestígios de cordões litorâneos, remanescentes de antigas
cristas de praia, parcialmente retrabalhados pela ação eólica ou semifixados
pela vegetação herbáceo-arbustiva de restinga. Seccionando esses terraços mais
antigos são encontrados ainda paleocanais de maré parcialmente colmatados, onde
atualmente predomina a vegetação de pântano. Os terraços holocênicos, com
altitudes variando de alguns centímetros até cerca de 4 metros acima do nível
médio atual do mar, formam uma faixa praticamente contínua na margem oceânica,
interrompendo-se apenas nas desembocaduras dos rios e riachos que drenam a
planície costeira. Muito embora os cordões litorâneos ocorram nesta formação
holocênica, sua continuidade é interrompida pela mobilidade das dunas
litorâneas ativas que avançam para o interior em faixas de largura variável e
pela ação antrópica. Apoiados na plataforma continental, os cordões litorâneos
mostram progressivo desenvolvimento que conduz ao alargamento dos perfis
longitudinais dos rios, criando problemas para a drenagem da planície costeira
(Carvalho e Fontes, 2006).
Nesta paisagem geomorfológica, o
levantamento das fontes escritas primárias (AMANCIO-MARTINELLI E BATISTA, 2009;
FERREIRA, 2012; CNSA/IPHAN) permitiram identificar a presença de 04 sítios
arqueológicos distribuídos nos municípios de Barra dos Coqueiros (2) e Pirambu
(2).
A continuidade do projeto
permitirá visitar os sítios identificados na etapa indireta, bem como aplicar a
metodologia de amostragem visando identificar novos sítios arqueológicos na
planície costeira da bacia do rio Japaratuba, contribuindo para a construção do
quadro arqueológico do estado de Sergipe, bem como para o entendimento das
paisagens arqueológicas construídas pelas populações pré-coloniais.
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